top of page

De onde vem essa memória de liberdade? Em que vazio se revela a utopia do homem em ascender aos céus? 

​

Entre Ícaro e Elon Musk, Santos Dumont ainda criança anunciava: "Homem voa!". E assim confiou, também, Helene Alberti, uma cantora de ópera norte-americana, que em 1931 vestiu suas asas e partiu para uma demonstração de voo, inspirada pelas leis cósmicas do movimento grego.

​

Não deu certo. Nem errado. Era um experimento, uma desforma artística, a mesma teoria-prática exercitada pelos vanguardistas modernos que buscavam acessar o novo, o não-racional, o suprarreal.

 

“Por favor, não me faça de fanática. Provei, para minha própria satisfação, que essas antigas leis gregas do movimento, uma vez compreendidas, podem funcionar hoje. Eu acredito que elas podem ser feitas para ter valor prático para nós. É isso que estou tentando demonstrar. Se elas não têm valor prático, elas não são boas.", disse em entrevista ao jornalista Carl Wharton, do periódico The Boston [MA] Herald, em 27 de outubro de 1929.

​

Daí em diante, não tenho mais notícias de Helene. Ao que parece, não há uma história institucionalizada em um museu casa, por exemplo. Mas, o lugar onde ela morava aos 55 anos pode ser visto, hoje, no Google Maps: Rua Hemenway, 175, Boston. Há pelo menos 15 anos, desde que o edifício começou a ser rastreado por satélite, a cor da fachada permanece a mesma.

​

Assim como um recorte de dados insere esse rastro na paisagem cultural pós-digital, em que outras dimensões as memórias poderiam ser reinventadas, a partir da curadoria dos dados de Helene que ainda não tiveram “direito ao esquecimento”?

​

Em “Procura-se Helene Alberti”, a pesquisa é o próprio trabalho estético, uma apropriação não só da linguagem daqueles cartazes dos procurados, vivos ou mortos, mas também do tempo e do espaço - real e virtual. Uma mentira de artista, já que estou buscando por alguém que morreu no século passado.

​

O cartaz, por si só, já é um experimento estético, conceituado pela potência da imagem associada à palavra. Mas quem tiver curiosidade de entrar no site, poderá contribuir com qualquer dado sobre Helene Alberti, ou sobre sua pesquisa, acessar as informações já coletadas e navegar por experimentos que tensionam a fronteira entre ficção e realidade.

​

Se histórias são camadas de memória e “a memória é invenção”, como dizia o esquizoanalista Pedro Paulo Rocha, não há uma história linear a ser reconstituída. Os dados estão fragmentados, em rede, descentralizados. Há a proposta de reuni-los para pesquisa e inventar novas realidades a partir deles.

​

Memórias Artificiais

​

Nesse sentido, “Memórias Artificiais” é um outro experimento, também

disponibilizado no site, em que é possível acessar o álbum de fotografias do

encontro patafísico entre Santos Dumont e Helene Alberti, na França, no início do século XX.

​

São memórias criadas por uma inteligência artificial, performando imagens de acervo: é possível vê-los jantando na mesa de dois metros de altura criada por Dumont, visitando o laboratório surrealista de um fabricante de bonecos de borracha, passeando de automóvel elétrico em Bagatelle e, claro, voando pelo céu de Paris.

​

Em “Procura-se Helene Alberti”, sonho, realidade e ficção se hibridizam e se

relacionam com este não lugar perseguido por eles. Uma pesquisa aberta, um ponto de convergência de informações e uma produção estética a partir de dados, disponível para multiplicação de possibilidades. Uma teoria-prática acerca das reflexões sobre as novas utopias do campo da arte.

bottom of page